HERDEIROS
MAM'ETU APARASILÊ
Mam'etu ria Nkisi
Nascida no Outono de 1946, em 4 de maio, na cidade de Belo Horizonte, filha de Maria Rita de Souza, natural de São Brás do Suaçuí, e de Manoel José de Oliveira, natural de Teófilo Otini, Sra. Glória Suzete teve o seu primeiro contato com a religião ainda criança. Isto por meio de sua avó, Maria José de Oliveira, que era parteira e benzedeira na cidade São Brás do Suaçui. Aos 4 anos de idade, perdeu o pai e, aos 12 anos, a Mãe Glória, consequentemente, se viu obrigada a dar continuidade às atividades de sua mãe, que diziam respeito a lavar e passar roupa a fim de conseguir se sustentar, bem como ajudar a criar sua irmã mais nova, de 6 anos.
Na trajetória de vida difícil, a religião sempre esteve presente, mesmo que ainda de forma inconsciente. Na adolescência, Sra. Glória sofria de desmaios constantes cujas reais causas nunca foram detectadas pelos médicos, tomou, durante dois anos, remédio controlado na intenção de melhorar os sintomas de desmaios repentinos, no entanto também sem sucesso. Certa vez, foi convidada a ir a um terreiro para conhecer, chegando ao recinto, teve a informação que o motivo dos desmaios era “coisa de santo” e que, tão logo, precisaria “fazer o santo”.
Aos 19 anos, em 1965, Sra. Glória começou a namorar o Sr. Geraldo André que, dois anos depois, a levou para conhecer o Sr. Geraldo do Indaiá, como era conhecido o Sr. Geraldo Augusto ou Geraldo de Oxalá. Na ocasião, Sr. Augusto estava na casa da Sra. Otília Ramos, que era Mãe adotiva do Sr. Geraldo André. Quando chegaram ao local, o Sr. Augusto estava incorporado na entidade Sete Encruzilhadas, que junto a Sete Cachoeiras, era a entidade mentora de seu terreiro no Indaiá. Quando Sra. Glória se aproximou de Sete encruzilhadas, ele lhe estendeu a mão, oferecendo-lhe um aperto de mão. E, no momento em que Glória a segurou, Sete Encruzilhadas olhou-a nos olhos e disse: "Você vai ser Yalorisá !". Porém, para Glória nenhuma daquelas palavras fazia sentido algum, primeiro por não entender e segundo por não acreditar muito.
O tempo passou, e a Sra. Glória Suzete começou a frequentar o terreiro do Sr. Geraldo Augusto no Indaiá. Em outubro de 1974, a Sra. Glória foi iniciada, para o terreiro de Sr. Augusto, pelas mãos da Sra. Otília Ramos, que era uma das pessoas mais antigas na casa. Sra. Glória Suzete o acompanhou fielmente até março de 1979, quando o ele veio a falecer. Antes do falecimento, Sr. Geraldo Augusto havia apresentado para Sra. Glória Suzete a Sra. Maria Paulina, dizendo que, quando ele morresse, Sra. Glória deveria procurar a Dona Paulina para dar prosseguimento às suas obrigações. Por sua vez, Maria Paulina (Odedey) havia sido iniciada pela Sra. Maria Neném de Amaralina.
Dessa forma, com o falecimento do Sr. Augusto, a Sra. Glória Suzete seguiu as orientações e procurou Dona Paulina. Entretanto, ela impôs uma condição: que a Sra. Glória Suzete fosse “raspada”, “pintada” e “katulada”, como é dito na vocábulo utilizado pelas pessoas de candomblé.
Inicialmente, a Sra. Glória Suzete não aceitou tal condição e continuou sua vida normalmente. Eis que a ela foi acometida por uma doença, e, apesar de consultar todos os especialistas renomados da medicina mineira, nenhuma enfermidade era detectada. Assim, o tempo passava, e cada vez mais seu estado de saúde piorava de tal maneira que, em dado momento, a Sra. Glória não conseguia mais levantar-se da cama.
No auge de seu adoecimento, a Dona Glória resolveu procurar novamente a Sra. Paulina, mas a resposta e as condições desta continuavam as mesmas. E, por não encontrar outro caminho, a Sra. Glória Suzete resolveu aceitar as exigências por Maria Paulina impostas. Logo, entrou para ser iniciada e recebeu tudo que um muzenza tem de direito, foi “pintada”, “raspada” e “katulada”.
Posteriormente, a Sra. Glória recebeu das mãos de Maria Paulina a cuia e, então, lhe foi conferido o cargo de Mam’etu ria Nkisi, podendo, portanto, dar continuidade à Casa deixada por Sr. Geraldo Augusto. Com o falecimento de Mãe Maria Paulina, Mãe Glória deu sucessão às suas obrigações com a Yalorixá Mãe Sylvia de Oxalá, que foi iniciada por Pai Caio de Xangô.
TATA JALAGBO
Tata Kambondu e presidente da casa
Nascido em 1944, no dia 11 de Novembro, na cidade de Rio Casca, interior de Minas Gerais, no ceio de uma família composta por 12 irmãos. Sr. Geraldo André, ainda criança, pode sentir os primeiros dissabores da vida, uma vez que perdeu o pai com 5 anos e a Mãe com 3 anos. Sem ter muito o que fazer, Sr. Geraldo André, o caçula da família, passou a ser levado para casa dos irmãos mais velhos, que faziam um revezamento na intenção de dividir os custos e a responsabilidade com a criação do irmão.
Aos 7 anos, não contente com a situação de ser um custo para seus irmãos, Sr. Geraldo André optou por não morar mais com qualquer um dos irmãos. Então, conseguiu um trabalho de auxiliar de lanternagem e pintura em uma oficina próxima ao Hospital Pronto Socorro Municipal, que, na época, ficava na Rua dos Otoni, número 762. Pela troca da mão de obra, lhe era permitido dormir e comer na oficina.
Na vida de infância difícil experienciada pelo Sr. Geraldo André, um amigo foi importante, Geraldo Ramos Filho, mais conhecido como Geraldo Negão. A amizade começou em função do futebol, dado que tinha um campo próximo à oficina na qual o Sr. Geraldo André trabalhava. No entanto, algo mágico, muito maior, estava para surgir dessa amizade.
Em meio a esse laço afetivo e ao trabalho diário em oficinas de carros, surge a figura da Sra. Otília da Silva Ramos, cozinheira no Hospital Pronto Socorro Municipal, que ficara contente com a nova amizade do filho Negão.
Ao conviver com a família de Negão, Geraldo André, a princípio, teve medo do contato com Pai Joaquim, entidade com a qual Dona Otília trabalhava. A relação de amizade foi estreitando, e a boa convivência fez a Sra. Otília oferecer a Geraldo André moradia na casa dela, dormindo no mesmo quarto que seu amigo.
A Sra. Otília era bastante conhecida onde residia por ser uma pessoa que auxiliava muito as pessoas da comunidade, ajudas que sempre vinham sem interesse e com o propósito de diminuir as dificuldades dos indivíduos.
Certo dia, na casa da Sra. Otília, quando Geraldo André chegou da oficina, notou que havia outra pessoa incorporada, se tratava do Sr. Augusto agindo como instrumento da entidade Sete Encruzilhas. Então, Sra. Otília disse ao Sete Encruzilhadas “esse é meu novo filho, que falei com o Sr.”. Sete Encruzilhadas chama Geraldo André e pede para lhe ver a mão, Geraldo André lhe estende a mão, e as primeiras palavras proferidas por Sete Encruzilhadas foram: “Você tem uma missão muito grande e vai atravessar o oceano. Você vai para África!”. Aquela era a primeira conversa com Sete Encruzilhadas, desse contato vieram várias outras. Alguma dessas conversas deixaram um recado para que Sr. Geraldo Augusto preparasse o jovem garoto para missão que este teria pela frente.
Geraldo André passou a frequentar o terreiro do Sr. Augusto, na cidade de Nova Era, e, em 10 de Julho de 1962, foi iniciado pelo Caboclo Sete Cachoeiras, recebendo a djina de Jalagbo.
Tata Jalagbo Acompanhou o Sr. Augusto como seu braço direito até o falecimento, em Março de 1979. Após o falecimento de Augusto de Oxalá, Geraldo André (Tata Jalagbo) deu segmento em suas obrigações com o Doté [1] Sr. Cesar de Lissá (mais conhecido como César de Oxalá). Ele, César de Oxalá, foi iniciado pelo Babalorixá João de Ogun, que foi iniciado por Tata Fomotinho. Hoje, Geraldo André tem como seu zelador o Doté Tossynandê.
[1] Título concedido a homens que se tornam “Pais de Santo” na nação de Djeje.